'Mulheres alvas de bom parecer': políticas de mestiçagem nas comunidades luso-afro-asiáticas do Oceano Índico e Arquipélago Malaio (1510-1750)
Mixed-Race Policies in the Luso-Afro-Asian Communities of the Indian Ocean and Malay Archipelago (1510-1750)
Keywords:
Castes, Mestizos, Luso-Descendents, Portuguese Tribe, Black PortugueseAbstract
The communities of Portuguese origin scattered along the shores of the Indian Ocean and the Far East have common characteristics that are quite noticeable. However, the way in which the ethnic markers present in them tend to construct a hierarchy of values of mestizaje is not uniform in the different regions of the so-called state of India and the informal Luso-Afro-Asian network, and the status of mestizos varied greatly in Africa and in Asia. In the East African coast, the statutes of the Luso-Africans - the Mulungos or Muzungos, a term that also referred to the Europeans - are valued in the eyes of the African society and in relations with the Crown, being the holders of public office for the most part, sometimes also Indo-Portuguese, occupying Europeans at the top of the governing hierarchy. The increasing Africanization of the so-called Portuguese elite has led the Crown to adopt innovative blood bleaching measures, notably through the establishment of the well-known deadline system in the Zanbeze Valley and attempts to "import" Asian women. Differences in the status of mestizos are particularly pronounced in Goa, where the inequality between chastis and mestizos eventually blurred into a single group that claimed Luso-descent and "white". From these examples, the discussion on the differentiated status of mestizos in Portuguese Asia is broadened considering their ethnic origin and their ability to integrate into different communities, drawing parallels with the situation of mestizos in Dutch-controlled Asian urban centers.
Resumo
As comunidades de origem portuguesa dispersas pelas margens do oceano Índico e pelo Extremo Oriente apresentam entre si características comuns bastante notórias. No entanto, a forma como os marcadores étnicos nelas presentes tendem a construir uma hierarquia de valores da mestiçagem não é uniforme nas diferentes regiões do chamado Estado da Índia e da rede informal luso-afro-asiática, tendo o estatuto dos mestiços variado enormemente em África e na Ásia. Nos estrepostos da costa oriental africana, os estatutos dos luso-africanos - os mulungos ou muzungos, termo que também designava os europeus - surge valorizado aos olhos da sociedade africana e nas relações com a Coroa, sendo os detentores dos cargos públicos na sua maior parte mertiços terra-tenentes, por vezes também indo-portugueses, ocupando os europeus o topo da hierarquia governativa. A crescente africanização da elite dita portuguesa levou a Coroa a adoptar medidas inovadoras de branqueamento de sangue, nomeadamente mediante a implantação do conhecido sistema de prazos no Vale do Zanbeze e das tentativas de "importação" de mulheres asiáticas. As diferenças no estatuto dos mestiços são particularmente acentuadas em Goa, onde a desigualdade entre castiços e mestiços acabou por se esbater num único grupo que se reinvindicava luso-descendente e "branco". Partindo destes exemplos, alarga-se a discussão do estatuto diferenciado dos mestiços na Ásia portuguesa considerando a sua origem étnica e a sua capacidade de inserção nas diferentes comunidades, estabelecendo paralelos com a situação dos mestiços em centros urbanos asiáticos controlados por holandeses.
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